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Desde que as mulheres passaram a ter de trabalhar fora para contribuir com o orçamento doméstico, a escola de educação infantil tornou-se um apoio importante para os pais deixarem a criança durante o dia, ou parte dele. Esse recurso é tão ou mais valorizado que os avós ou outros parentes, as empregadas e babás para os cuidados com a criança na falta dos pais. Mas como foi justamente essa ausência uma das razões primeiras para levar a criança à escola, muita gente ainda pensa que os professores apenas os substituem.
Na verdade, os papéis que pais e professores desempenham na primeira infância, na educação e no desenvolvimento da criança, estão muito próximos e devem mesmo ser complementares.
De qualquer forma, desde cedo o bebê já é um 'estudante' curioso que pesquisa, organiza e assimila o conhecimento sobre o mundo, as pessoas e si mesmo. E ele faz isso com jogos e brincadeiras, mas precisa de segurança, amor e carinho para fazer bem.
'Na primeira infância, a aprendizagem e o desenvolvimento estão ligados aos vínculos afetivos e emocionais seguros e verdadeiros que a criança estabelece com quem cuida dela, e que lhe dão segurança. Essas condições são essenciais para introduzir a criança no mundo do conhecimento, da cultura e das regras', observa a socióloga e doutora em educação Gisela Wajskop, diretora do Instituto Singularidades, que forma professores.
De 0 aos 6 anos, a faixa atendida pelas escolas de educação infantil, a tarefa de educar está intimamente ligada aos cuidados que a criança exige, mas não se resume a isso. O tempo todo, com suas atitudes, pais e professores estão educando as crianças. Por isso, é fundamental uma boa parceria entre a família e a escola. E confiança, nessa hora, é importante.
Relação de confiança
É preciso que se estabeleça uma sintonia muito fina entre os pais e a escola, na qual a contribuição de cada parte seja acolhida e respeitada em benefício do bem-estar e do crescimento da criança. 'Infelizmente, em muitas escolas, ainda persiste a visão de que a família não sabe educar, o que é um equívoco', observa Stela Maris Lagos Oliveira, coordenadora de Educação Infantil do Ministério da Educação (MEC). 'Quando a escola parte desse princípio, impede o diálogo e coloca a família fora do processo. Ela precisa respeitar o conhecimento que os familiares da criança trazem', defende a coordenadora Stela.
Para começar, os professores devem procurar conhecer o que pensam e fazem os pais de seus alunos, obter informações sobre a criança, interagir com eles. E tudo isso se faz num contato mais estreito, com uma comunicação quase diária. 'Esse relacionamento não deve se limitar a chamar a família para as festinhas da escola', diz Neide Noffs.
Pais e professores também não precisam ficar amarrados ao programa formal de reuniões bimestrais ou semestrais para trocar ideias e informações sobre a criança. Quando se trata de crianças pequenas, essa 'troca de figurinhas' precisa ser constante. Como ela ainda não consegue expressar direito suas necessidades e sensações, os adultos que a acompanham, em casa e na escola, é que precisam fazer o intercâmbio de informações.
Portas abertas
A escola precisa abrir suas portas para que se formem parcerias entre pais e escola.
Essa postura é especialmente importante no início do relacionamento, quando acontece o processo de adaptação da criança à rotina escolar. A instituição tem de estar preparada e sensibilizada para o fato de que, muitas vezes, a família, e não apenas a criança, precisa ser acolhida e amparada nesse momento.
Contribuições de casa
Alguns pais necessitam de um tempo para conhecer as pessoas que vão trabalhar com a criança, acompanhar as rotinas e atividades das quais ela participará. É preciso que a criança estabeleça um vínculo afetivo com a professora. Assim, sente-se mais estimulada a ir para a escola, a permanecer ali envolvida nas atividades com os coleguinhas, sem sentir falta de uma pessoa da família por perto. Isso não acontece de uma hora para a outra, logo no primeiro dia. Ao notar que o filho conseguiu esse vínculo, a mãe também fica mais calma e segura.
Vencida essa delicada etapa, as chances de construir um relacionamento mais proveitoso com a escola são muito maiores, tanto para a criança, quanto para seus pais. Esse tempo de adaptação escolar não é o mesmo para todas as crianças e famílias, e isso também precisa ser respeitado.
Bom começo
Você tem sua cota de responsabilidade na construção de um bom relacionamento com a escola. E isso começa na hora da escolha. Nesse momento, você deve esmiuçar cada detalhe. Vale até indagar qual a postura dos professores diante de situações concretas, como quando uma criança morde outra ou quando uma delas abre o berreiro porque o coleguinha não quer brincar com ela, ou porque toma seu brinquedo.
Nova escola
Feita a escolha, os pais não devem baixar a guarda. 'É um equívoco achar, como acontece com alguns pais, que basta entregar o filho na escola, e daí para a frente a tarefa de educar é do professor', diz Stela Maris. É preciso ficar de olho em tudo e até mesmo verificar se a escola segue as orientações oficiais para a alfabetização.
Desde 1996, o MEC obriga as escolas de educação infantil a se credenciar junto ao sistema público de ensino. Um estudo divulgado pelo IBGE em 2000 revelou, no entanto, que metade das creches brasileiras ainda não tinha providenciado esse credenciamento.
O MEC também lançou um referencial curricular com diretrizes detalhadas sobre o atendimento que as escolas de educação infantil devem oferecer, levando-se em conta o estágio de desenvolvimento da criança.
De acordo com esse referencial, essas escolas devem buscar o desenvolvimento global da criança. Ajudá-la a se reconhecer como um ser autônomo, a construir sua identidade. Preocupar-se em estimular suas habilidades para pensar, desejar, utilizar diversas linguagens. E propiciar atividades que favoreçam o relaciona-mento entre as crianças, o ensino do respeito ao outro, a troca de saberes, experiências e afetos.
Essas diretrizes, mais o credencia-mento junto ao MEC, são medidas que visam melhorar o atendimento pedagógico na faixa de 0 a 6 anos. Observar seu cumprimento é mais um motivo importante para os pais se aproximarem da escola. Seu olhar atento a questões como essas e o diálogo com os professores podem fazer a diferença na qualidade da educação que seu filho receberá lá.
Na sala de aula
Veja algumas das principais linhas de trabalho sugeridas pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil lançado pelo MEC.
De 0 a 3 anos ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Brincadeiras de 'esconder e achar' e de imitação. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Desenvolver iniciativa para pedir ajuda quando for necessário. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Respeito a regras simples de convívio social. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Identificação de situações de risco no seu ambiente mais próximo. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Higiene das mãos com ajuda de um adulto. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Interesse pelas brincadeiras e exploração de diferentes brinquedos. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Aprender a expressar e manifestar desconforto em relação a presença de urina e fezes nas fraldas. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Interesse em experimentar novos alimentos e comer sem ajuda.
De 4 a 6 anos ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Iniciativa para resolver pequenos problemas do cotidiano, pedindo ajuda se necessário. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Participação conjunta de meninos e meninas em brincadeiras de futebol, casinha e pular corda, entre outras. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Tomar parte na realização de pequenas tarefas cotidianas que necessitem ações de cooperação, solidariedade e ajuda na relação com os outros. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Conhecimento, respeito e utilização de regras elementares de convívio social. ![](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_vQMY-4U92ffvj3cZRhdrBFaPjqgx6sF1547zvWbLIC2KBMID6vsgeTVNHJ8ICODkyKoC5Kh2WC-n39PyxG32ohES5-cPtHlvvTDOH4gwHs=s0-d) Utilização adequada dos sanitários.
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